Dizia Camões: “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser,muda-se a confiança. Todo o mundo é composto de mudança, tornando sempre novas qualidades...”
As mudanças nem sempre são positivas. Nem sempre são
negativas. Toda mudança envolve ambos os aspectos. Como educadores devemos
aproveitar os aspectos positivos e criar estratégias para sanar os negativos, diminuindo,
sempre que possível, seus efeitos no processo educativo.
Nos últimos anos, o desenvolvimento cognitivo de nossas
crianças é mais acelerado. Elas estão expostas a um grande número de estímulos
e isso é natural. Faz parte do processo evolutivo. Porém,suas vivências
corporais estão empobrecidas, logo, o desenvolvimento psicomotor não está no
mesmo nível que o cognitivo. O que acontece? Crianças que têm um potencial
cognitivo enorme, porém, não conseguem expressá-lo: “o corpo não acompanha o
ritmo do pensamento”. Elas têm as ferramentas, mas não conseguem usa-las.
Resultado? Problemas grafomotores, atencionais e de limites. As crianças não
conhecem seu próprio corpo do ponto de vista da funcionalidade, logo, não sabem
utilizar partes separadas. Ao escrever, por exemplo, utilizam pressão e tensão
em todo o corpo e na realidade, o corpo.deveria
estar em repouso concentrando energia e fornecendo suporte tônico para o
movimento principal (escrever). Além disso, como estão expostos à lápis e
canetas precocemente, desenvolvem uma preensão inadequada o que gera fadiga
muscular e tensão residual. Consequentemente, ao escrever algum aspecto falhará
devido ao gasto desnecessário de energia: a ortografia, o ritmo da escrita, o
conceito ou a letra. Cada criança prioriza um aspecto. Geralmente a maioria
deixa a letra como última opção.
Muito bem! Esclarecido! Mas, o que podemos fazer?
Criar alternativas, preferencialmente lúdicas, para “ensiná-las”
a usar o corpo, primeiro de forma global (o corpo todo) e depois de forma
específica (partes segmentadas), ou seja, respeitando as leis neuropsicomotoras
de desenvolvimento: do grande para o pequeno, do todo para partes, de cima para
baixo, de dentro para fora, etc. O uso do corpo e de suas partes deve ser significativo, consciente e voluntário:
as crianças devem saber os objetivos dos jogos e atividades, que parte do corpo
pode e deve ser utilizada, como cada uma se move que parte realiza o movimento
principal, etc.
Como atividade especifica apresento a flauta pedagógica
Lepique, resultado de 3 anos de pesquisa, estudo e aperfeiçoamento com
resultados positivos: 85% das 280 crianças que utilizaram a flauta de acordo
com as premissas filosóficas psicomotoras, passaram a utilizar preensão
adequada do lápis adquirindo maior fluência, ritmo e diminuição do cansaço
durante as atividades escritas.
Além disso, os dedos polegares e indicadores de ambas as
mãos não se movem possibilitando um estímulo sensorial riquíssimo que estimula
a dissociação digital (mover os dedos de forma independente), habilidade
importantíssima no ato gráfico.
Outro aspecto fundamental é que com a flauta, as crianças
aprendem a respirar pelo nariz (aspecto fundamental no processo
atencional,básico para qualquer tipo de aprendizagem). Sem falar nas questões
sociais envolvidas: uma nota não cria uma canção! Cada um é importante. Tocamos
juntos e juntos fazemos música!
Roseli Lepique
Psicomotricista,
Pedagoga Musical, Psicopedagoga.
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